O grupo de pesquisa “Da Rua” estruturou-se a partir do projeto de pesquisa intitulado Da rua: olhares sobre histórias da literatura brasileira, coordenado por mim e desenvolvido no período de 2008 a 2011.
Importa salientar, no entanto, que sua base já se encontrava em projetos anteriores: – Lugares críticos: exclusão e resistência na América Latina (1998 – 2002 – Fapemig, FIP-PUC Minas); Lugares críticos: exclusão e resistência na América Latina II (2002 – 2005 – CNPq); Revistas alternativas urbanas: cruzamentos de trânsito sócio-cultural (2005– 2008 – CNPq), –, em que tenho investigado a produção cultural relativa à população em situação de rua, seja como sujeito, seja como objeto de narrativas, no âmbito daquilo que chamei “Lugares críticos”. Essa expressão foi usada tanto com referência a lugares em crise, marcados pela exclusão social, quanto aludindo a lugares da crítica latino-americana, em sua formulação de conceitos como possibilidade de saídas alternativas para interpretar a produção cultural, ou antes, seu processo, levando em conta, por isso mesmo, o lugar de enunciação. Os dois primeiros projetos tiveram como corpus relatos colhidos nas ruas de grandes cidades brasileiras e narrativas já publicadas por pessoas desse segmento social no circuito editorial do país, como Esmeralda, por que não dancei, de Esmeralda Ortiz (2001), ao lado de contos e romances que tomavam esse tipo de população como personagem – Paulo Lins, Fernando Bonassi, Luiz Ruffato, Marcelino Freire, Marçal Aquino e outros. Daí resultou o livro Corpus rasurado: exclusão e resistência na narrativa urbana, publicado em 2005, pelas editoras da PUC Minas e Autêntica.
Depois disso, senti necessidade de um recuo na história da literatura brasileira para investigar, a partir da ideia da rua como um espaço de possíveis trocas culturais, suas configurações presentes em diferentes momentos da narrativa urbana brasileira. Tomando o conceito de passagens, de Benjamin (2006), enquanto corredor de trânsito ou ponto de união entre diferentes espaços, foi ressaltada a ambiguidade aí antevista pelo filósofo, quando realça o avesso das relações de produção e consumo exibidas nas passarelas de luxo em sua tentativa de assepsia do espaço urbano. As figuras da prostituta, também ela vendedora e mercadoria, e do trapeiro evidenciariam, então, a face obscura não só da cidade, mas do sistema que a gerencia.
Pretendeu-se, com nova fase da pesquisa, delinear, na narrativa urbana brasileira, uma história da rua pensada como algo que varia no tempo e no espaço, conforme a concepção urbanista que a rege, associada, por sua vez, às relações político-econômicas de cada época.
Partindo da ideia de rua como espaço do encontro e da diversidade, e não apenas de circulação (cf. Jane Jacobs, 2003), a rua foi estudada como um possível lugar de trocas culturais, analisando-se suas configurações em diferentes momentos da narrativa urbana brasileira. Não se deixou de considerar aí a rua em sua relação com a população iletrada e/ou marginalizada, tendo sido necessário valer-se, além dos conceitos de passagens e de rua, de conceitos mediadores como os de espaço público, transculturação e multiculturalismo, sempre associados à questão da pobreza ou da exclusão social, onde estão em jogo relações de poder.
Assim, a imagem da rua como espaço físico-geográfico e político-social foi alargada para o exame do tratamento dado a essas relações por escritores da literatura brasileira, tanto no que se refere ao espaço da rua e seus transeuntes/personagens, quanto à circulação de vozes no espaço da enunciação da história contada em sua inserção na história da literatura brasileira, tomada como um processo de seleção e exclusão.
Os conceitos que embasaram a pesquisa foram detidamente estudados pelo grupo, que se valeu de textos teóricos de autores variados, mas, sobretudo, discutidos à luz da leitura e análise de textos literários.
Em 2010 o grupo organizou um seminário que contou com a especial participação do crítico e professor Luis Bueno e com a apresentação de trabalhos por cada um de seus integrantes, ocasião em que se pode observar o resultado das reflexões empreendidas por seus integrantes, desde o início da pesquisa. Todos os trabalhos apresentados nesse seminário foram compilados para publicação em um número especial dos Cadernos CESPUC, que se encontra em fase de finalização.
Como produto final, organizei um livro com artigos produzidos ao longo da pesquisa, intitulado, em um primeiro momento Da rua: sujeitos e objetos. Também este livro encontra-se em fase final de revisão e editoração, devendo ser publicado em breve pela Editora UFMG, sob o título A rua na literatura/A literatura da rua.
No ano de 2011 o projeto foi renovado e ganhou um novo nome: Literatura comparada e polis: rotas alternativas. A pesquisa encontra-se em andamento e tem data de término prevista para o ano de 2015.
Dando continuidade ao projeto anterior no que se refere ao estudo da produção cultural relativa à população em situação de rua, a pesquisa atual retoma a reflexão crítica, porém em uma abordagem de viés basicamente teórico. Armando uma equação com os termos polis, produção cultural alternativa e produção do conhecimento e, envolvendo aí os conceitos de ética, política e estética, o objetivo é estudar ensaios e artigos no campo da Literatura Comparada que contemplem objetos culturais vistos como alternativos e informais, levando-se em conta a complexidade tanto do processo quanto dos conceitos aí envolvidos.
No âmbito dessa nova pesquisa o grupo vem desenvolvendo, durante seus encontros regulares, o estudo e a discussão de textos teóricos sobre ética, estética e política em sua relação com a (des)subjetivação, cujo primeiro resultado coletivo foi a participação no Seminário do ICH/PUC Minas, ocorrido no ano de 2013, com mesas específicas sobre o assunto em pauta.
Atualmente a pesquisa encontra-se na fase de levantamento e compilação de artigos e ensaios críticos sobre a produção literária alternativa/informal. Paralelamente a isso, está sendo organizado um livro, sob minha coordenação e da Profª Raquel Beatriz Guimarães, que reunirá textos de pesquisadores do Brasil e do exterior, constituindo-se como fruto das análises e reflexões feitas durante o processo.
Finalmente, é preciso registrar que desde a pesquisa anterior, iniciada em 2008, os estudos e as discussões realizadas pelo Grupo Da Rua inspiraram a produção de vários artigos (ver lista e links para acesso), assim como fomentaram o desenvolvimento de dissertações e teses bem sucedidas, o que demonstra o trabalho sério e comprometido de toda a equipe que o integra.
Importa salientar, no entanto, que sua base já se encontrava em projetos anteriores: – Lugares críticos: exclusão e resistência na América Latina (1998 – 2002 – Fapemig, FIP-PUC Minas); Lugares críticos: exclusão e resistência na América Latina II (2002 – 2005 – CNPq); Revistas alternativas urbanas: cruzamentos de trânsito sócio-cultural (2005– 2008 – CNPq), –, em que tenho investigado a produção cultural relativa à população em situação de rua, seja como sujeito, seja como objeto de narrativas, no âmbito daquilo que chamei “Lugares críticos”. Essa expressão foi usada tanto com referência a lugares em crise, marcados pela exclusão social, quanto aludindo a lugares da crítica latino-americana, em sua formulação de conceitos como possibilidade de saídas alternativas para interpretar a produção cultural, ou antes, seu processo, levando em conta, por isso mesmo, o lugar de enunciação. Os dois primeiros projetos tiveram como corpus relatos colhidos nas ruas de grandes cidades brasileiras e narrativas já publicadas por pessoas desse segmento social no circuito editorial do país, como Esmeralda, por que não dancei, de Esmeralda Ortiz (2001), ao lado de contos e romances que tomavam esse tipo de população como personagem – Paulo Lins, Fernando Bonassi, Luiz Ruffato, Marcelino Freire, Marçal Aquino e outros. Daí resultou o livro Corpus rasurado: exclusão e resistência na narrativa urbana, publicado em 2005, pelas editoras da PUC Minas e Autêntica.
Depois disso, senti necessidade de um recuo na história da literatura brasileira para investigar, a partir da ideia da rua como um espaço de possíveis trocas culturais, suas configurações presentes em diferentes momentos da narrativa urbana brasileira. Tomando o conceito de passagens, de Benjamin (2006), enquanto corredor de trânsito ou ponto de união entre diferentes espaços, foi ressaltada a ambiguidade aí antevista pelo filósofo, quando realça o avesso das relações de produção e consumo exibidas nas passarelas de luxo em sua tentativa de assepsia do espaço urbano. As figuras da prostituta, também ela vendedora e mercadoria, e do trapeiro evidenciariam, então, a face obscura não só da cidade, mas do sistema que a gerencia.
Pretendeu-se, com nova fase da pesquisa, delinear, na narrativa urbana brasileira, uma história da rua pensada como algo que varia no tempo e no espaço, conforme a concepção urbanista que a rege, associada, por sua vez, às relações político-econômicas de cada época.
Partindo da ideia de rua como espaço do encontro e da diversidade, e não apenas de circulação (cf. Jane Jacobs, 2003), a rua foi estudada como um possível lugar de trocas culturais, analisando-se suas configurações em diferentes momentos da narrativa urbana brasileira. Não se deixou de considerar aí a rua em sua relação com a população iletrada e/ou marginalizada, tendo sido necessário valer-se, além dos conceitos de passagens e de rua, de conceitos mediadores como os de espaço público, transculturação e multiculturalismo, sempre associados à questão da pobreza ou da exclusão social, onde estão em jogo relações de poder.
Assim, a imagem da rua como espaço físico-geográfico e político-social foi alargada para o exame do tratamento dado a essas relações por escritores da literatura brasileira, tanto no que se refere ao espaço da rua e seus transeuntes/personagens, quanto à circulação de vozes no espaço da enunciação da história contada em sua inserção na história da literatura brasileira, tomada como um processo de seleção e exclusão.
Os conceitos que embasaram a pesquisa foram detidamente estudados pelo grupo, que se valeu de textos teóricos de autores variados, mas, sobretudo, discutidos à luz da leitura e análise de textos literários.
Em 2010 o grupo organizou um seminário que contou com a especial participação do crítico e professor Luis Bueno e com a apresentação de trabalhos por cada um de seus integrantes, ocasião em que se pode observar o resultado das reflexões empreendidas por seus integrantes, desde o início da pesquisa. Todos os trabalhos apresentados nesse seminário foram compilados para publicação em um número especial dos Cadernos CESPUC, que se encontra em fase de finalização.
Como produto final, organizei um livro com artigos produzidos ao longo da pesquisa, intitulado, em um primeiro momento Da rua: sujeitos e objetos. Também este livro encontra-se em fase final de revisão e editoração, devendo ser publicado em breve pela Editora UFMG, sob o título A rua na literatura/A literatura da rua.
No ano de 2011 o projeto foi renovado e ganhou um novo nome: Literatura comparada e polis: rotas alternativas. A pesquisa encontra-se em andamento e tem data de término prevista para o ano de 2015.
Dando continuidade ao projeto anterior no que se refere ao estudo da produção cultural relativa à população em situação de rua, a pesquisa atual retoma a reflexão crítica, porém em uma abordagem de viés basicamente teórico. Armando uma equação com os termos polis, produção cultural alternativa e produção do conhecimento e, envolvendo aí os conceitos de ética, política e estética, o objetivo é estudar ensaios e artigos no campo da Literatura Comparada que contemplem objetos culturais vistos como alternativos e informais, levando-se em conta a complexidade tanto do processo quanto dos conceitos aí envolvidos.
No âmbito dessa nova pesquisa o grupo vem desenvolvendo, durante seus encontros regulares, o estudo e a discussão de textos teóricos sobre ética, estética e política em sua relação com a (des)subjetivação, cujo primeiro resultado coletivo foi a participação no Seminário do ICH/PUC Minas, ocorrido no ano de 2013, com mesas específicas sobre o assunto em pauta.
Atualmente a pesquisa encontra-se na fase de levantamento e compilação de artigos e ensaios críticos sobre a produção literária alternativa/informal. Paralelamente a isso, está sendo organizado um livro, sob minha coordenação e da Profª Raquel Beatriz Guimarães, que reunirá textos de pesquisadores do Brasil e do exterior, constituindo-se como fruto das análises e reflexões feitas durante o processo.
Finalmente, é preciso registrar que desde a pesquisa anterior, iniciada em 2008, os estudos e as discussões realizadas pelo Grupo Da Rua inspiraram a produção de vários artigos (ver lista e links para acesso), assim como fomentaram o desenvolvimento de dissertações e teses bem sucedidas, o que demonstra o trabalho sério e comprometido de toda a equipe que o integra.
Ivete Lara Camargos Walty